terça-feira, 17 de agosto de 2010

Continuação do texto para trabalhar a "Atividade 2"

semanal. Em algumas localidades do Mato Grosso do Sul, constatou-se a existência de trabalho semi-escravo, ou seja, a empresa fornecia alimentos e descontava seu valor sem apresentar notas; na hora do acerto de salário, muitos trabalhadores ainda ficavam devendo à empresa (Huzak & Azevedo, 2000, p.22). O grande paradoxo é pensar que o carvão, destinado a fornecer energia, seja produzido subtraindo energia de crianças e jovens.
No sertão da Bahia e da Paraíba, crianças e adolescentes trabalham nas plantações de sisal: cortam as pontudas folhas e as carregam para a “batedeira”, máquina de desfibrar as folhas de sisal, transportando também a fibra processada para a secagem. Nesse trabalho, não raro sofrem mutilações pelo uso da máquina e ainda são expostos ao ruído excessivo e à alta concentração de poeira. O Brasil é o principal fornecedor mundial dessa planta, cujas fibras conseguem altos preços no mercado internacional. A beleza dos produtos derivados do nosso sisal esconde histórias de privações de crianças e adolescentes envolvidos na produção da fibra.
Detectado em 12 estados brasileiros, dentre os quais Alagoas, Bahia e São Paulo, o trabalho de crianças e adolescentes em pedreiras lembra os antigos trabalhos forçados que prisioneiros eram obrigados a realizar. As crianças trabalham a céu aberto em meio a explosões de rochas, provocadas com cartuchos de pólvora. Com marretas e talhadeiras quebram os blocos de pedras sob o sol, num esforço físico excessivo para suas idades.
Também trabalham no polimento e carregamento de pedras, inalando pó o tempo inteiro. A jornada é excessiva, o trabalho é insalubre, ninguém usa óculos ou qualquer outro meio de proteção.
Nos centros urbanos, o trabalho infantil é visível nas ruas e, especialmente, nos depósitos de lixo ou “lixões”. Em ambiente altamente insalubre, crianças e adolescentes recolhem garrafas, latas, plástico e papel para reciclagem ou reaproveitamento e posterior comercialização. Nos lixões, convivem com materiais contaminados e gases de fermentação dos dejetos; latas, garrafas e peças de metal cortam e ferem, tanto adultos como crianças. Alimentam- se em meio a enxames de moscas. Além do que recolhem para venda, costumam selecionar alimentos e objetos reaproveitáveis para uso próprio. Com o que vendem, crianças conseguem obter a quantia de no máximo R$ 2,00 por dia (Huzak & Azevedo, 2000, p.81). É comum trabalhar a família inteira, numa jornada ininterrupta, sem descanso semanal ou qualquer vínculo empregatício.
Pequenos trabalhadores nas cidades vêem-se por toda parte, nas ruas. São vendedores de picolé, fruta, cigarro, biscoito, doces e balas; são guardadores de carro, “flanelinhas”, jornaleiros ou engraxates, dentre tantas atividades. Vendendo produtos diversos entre veículos em congestionamentos, pontos de ônibus, em frente a centros comerciais ou estádios de futebol, eles fazem parte da paisagem urbana, sendo por muitas vezes vistos como estorvo ou mesmo como futuros marginais.
A rua é um local de trabalho cruel e perigoso: as relações que estabelecem com outros atores sociais (adultos agenciadores, policiais, traficantes e adultos de rua) em muitos casos põem em risco sua vida. Além disso, esses meninos e meninas fazem longos percursos a pé, alimentam-se de maneira e em horários inadequados e, por vezes, trabalham em locais e horários impróprios para a idade, como bares ou boates, à noite.
Nas cidades, além dos lixões e do trabalho nas ruas, outra forma de inserção, menos visível, é o emprego doméstico e em pequenos empreendimentos (lojas, fábricas e escritórios familiares ou de pequeno porte). Para os empregadores, o trabalho infantil apresenta-se como recurso barato e sem necessidade de regularização. Embora talvez cause menor impacto, esse trabalho não perde suas características e condições de exploração, exposição a riscos e prejuízo ao desenvolvimento das crianças e jovens.
O trabalho doméstico, realizado geralmente por meninas em residências, constitui freqüentemente uma forma de exploração oculta, como mencionado.
Na maioria das vezes, as condições de vida e trabalho são inadequadas, muitas meninas dormem no emprego – condição que favorece uma jornada de trabalho extremamente alongada – e muitas chegam a sofrer humilhações e abusos sexuais.
A mesma pesquisa do DIEESE (1997) em seis grandes centros urbanos brasileiros, já mencionada, constatou que 70% das crianças trabalhadoras têm menos de 14 anos, sendo que um terço delas começou a trabalhar antes dos 10 anos. Grande parte delas trabalha cinco, seis e até sete dias da semana, em tempo integral; muitas cumprem parte da jornada de trabalho à noite. O trabalho que as crianças fazem é exatamente o mesmo que é feito por adultos, inclusive com as mesmas condições precárias, isto é, em locais perigosos e insalubres.
Um quadro sintetizando as principais ocupações de crianças no Brasil é apresentado anexo (última página). O quadro aqui esboçado mostra que a sociedade brasileira, nos tempos atuais, vem imprimindo grandes doses de sofrimento a milhões de crianças e adolescentes, que continuam sendo agenciados para os mais diversos tipos de trabalho, realizados em condições que em nada se revertem em seu próprio benefício. E, também no passado, isso ocorria.

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